Introdução
Publicado em 2007 pela Zahar, com tradução de Maria Luiza X. de A. Borges, O Culto do Amador de Andrew Keen foi uma obra provocativa desde o seu lançamento. Keen, um crítico ferrenho da internet aberta e da produção de conteúdo amador, argumenta que a democratização das ferramentas digitais está destruindo não apenas a economia tradicional, mas também a qualidade da cultura e os valores que sustentam a sociedade. Sua crítica se dirige a blogs, plataformas como YouTube e MySpace, e à pirataria digital, apontando para uma internet onde a qualidade e a credibilidade são sacrificadas em prol da quantidade e da viralidade.
O Impacto Cultural
Para Keen, uma das maiores ameaças trazidas pelo que ele chama de “culto do amador” é a erosão da autoridade cultural. No passado, jornalistas, músicos, cineastas e outros profissionais eram selecionados com base em talento e experiência. Com o advento das plataformas digitais, qualquer pessoa pode criar e distribuir conteúdo, o que, segundo Keen, resulta em uma inundação de material de baixa qualidade, desinformação e uma sociedade que privilegia o entretenimento superficial em detrimento da arte e da cultura de alta qualidade.
Um exemplo citado no livro é o YouTube, que permite que qualquer pessoa se torne “criadora de conteúdo”, muitas vezes sem o rigor ou o treinamento necessário. Para Keen, essa democratização leva a um empobrecimento cultural, pois o conteúdo amador compete diretamente com o conteúdo profissional, muitas vezes sem os mesmos padrões de qualidade.
Economia e Mídias Digitais
Do ponto de vista econômico, Keen argumenta que a gratuidade e a pirataria digital prejudicam gravemente as indústrias criativas, como a música e o cinema. A proliferação de plataformas gratuitas e a facilidade de acesso ao conteúdo sem pagamento adequado desvalorizam o trabalho de artistas, músicos e cineastas, o que afeta a produção de conteúdo de alta qualidade. A pirataria digital é apontada como um fator central nessa desvalorização, destruindo os modelos de negócios tradicionais e forçando empresas a buscar alternativas insustentáveis.
A Situação Atual
Hoje, muitos dos pontos levantados por Keen em 2007 ainda são relevantes, embora o cenário digital tenha evoluído significativamente. O surgimento de influenciadores digitais, a monetização de plataformas como YouTube e Twitch, e o crescimento de redes sociais como Instagram e TikTok criaram uma economia nova, a chamada “economia dos criadores”. Ao contrário da visão de Keen, muitos veem essa economia como uma forma de dar voz a criadores independentes e democratizar o acesso ao público.
No entanto, os problemas de desinformação, qualidade do conteúdo e a precariedade das indústrias criativas que Keen criticou se intensificaram. A ascensão das fake news, por exemplo, é uma consequência direta da facilidade com que conteúdo amador pode ser publicado e disseminado. Da mesma forma, a desvalorização do trabalho artístico e intelectual continua sendo um problema, com muitos criadores de conteúdo dependendo de patrocínios e publicidade para sustentar seu trabalho.
5: Conclusão
O Culto do Amador continua sendo uma obra relevante para quem deseja entender os efeitos das mídias digitais sobre a cultura e a economia. Embora Keen tenha escrito em uma época em que o MySpace e o YouTube ainda estavam em ascensão, suas previsões sobre a fragmentação da cultura, a desinformação e a desvalorização das indústrias criativas se confirmaram em grande parte. A internet trouxe muitas oportunidades, mas também apresentou desafios profundos para o equilíbrio entre democratização do conteúdo e a preservação da qualidade e credibilidade cultural.